23.10.12

Que assim seja


Você aperta a minha mão e me diz que vai ficar tudo bem, diz também que é para eu seguir em frente que você fará o mesmo.
E você vai embora. Me indigno pelo fato de que você sequer encostou em mim. Só isso?! Um aperto de mão qualquer. Será que eu não merecia ao menos um abraço?
Chego a conclusão de que preciso correr em sua direção, me sinto correndo atrás de você mas quando eu olho para baixo não consegui dar ao menos um passo, sequer. Eu que sempre me nomeie a mais forte não consegui correr atrás de alguém para poder me depedir decentemente.
Que tola, que burra, que fraca. Disse a mim mesma que nunca mais seria fraca novamente. Não Consegui. Aquele que era a fonte de energia das minhas forças acabará de partir, e eu não fiz nada para detê-lo.
Como eu deixei aquele que me ensinou novamente o que é o amor partir assim, dessa maneira?
Deixei, deixando. Não querendo deixar mas não fazendo nada para impedir que isso acontecesse.
As horas passam, os dias passam, as semanas passam e agosto finalmente chega ao fim. Que nem diz o sábio Caio Fernando Abreu "Que setembro me traga todos os sorrisos que agosto me roubou." Que assim seja.

6.10.12

Eva, e Adão.



Imagine uma moça que se chama Eva e mora no paraíso, um espécie de lounge incrível, também conhecido como "Éden". Mas no paraíso você só podia dar uma de amiguinha do Adão, o único homem presente. Como se não bastasse, ele é um gato, que te seduz, com aquele olhar de cara moderno sedutor e uma barba-por-fazer-meio-indie. "Será que ele é gay?", pensava a garota. Afinal, aquelas ninfas todas que andavam perto dela já tinham espalhado esse boato: "Se não chegou perto de você para te agarrar, amiga, é porque ele é gay."

Mas os problemas dela não eram apenas "com os homens". Ou melhor, com o (único) homem. Eva vivia no paraíso, naquele maravilhoso cenário, e com uns pavões que pareciam saídos de uma estampa da grife Neon. Ela tinha que se contentar em usar una folhinha no lugar de roupas. Espera! Essa vida não estava ficando meio chata? Afinal, ela não podia brincar de se vestir com as roupas da hora nem namorar o cara mais gato. E nem um feio _que fosse.

Alem de tudo, a pobre tinha de andar descalça e pisar em todos os pedregulhos que apareciam na sua frente, sem proteção (o máximo que conseguiu, um dia, foi improvisar um chinelo de palmeira).

Alem de não ser muito pratico (ele durava pouco, pois era biodegradável, e olha que usar roupa sustentável nem estava na moda na época), a sola não era suficientemente grossa para impedir que aqueles pressentidos todos machucassem seus pés.

Tudo bem, o paraíso era lindo. "Mas o que vale o paraíso sem amor?", cantarolava Eva, lembrando de uma canção do Roberto Carlos. E sem roupa.

Que fique claro: Eva era moça muito vaidosa. E só podia se contentar mesmo em fazer una boa mascara de lama e invejar os pavões, com aquelas incríveis penas (tipo animal print, tendência) que nunca, nunca seriam dela.

O tal Éden ate que era um lugar bem legal. Eva não tinha que trabalhar, vivia tomando banho de cachoeira, não era obrigada a ficar presa em engarrafamentos, nada disso. Mas passar o dia olhando para Adão, que com aquela sua barba indie super charmosa não fazia absolutamente nada (aquelas coisas que importavam) já estava mesmo virando um tédio.

E não, ela não podia sair para fazer compras para se animar. Tinha que ficar lá, lidando com a sedução de Adão e ouvindo as fofocas das ninfas. "Agarra ele", dizia una delas. "Mas e se ele for gay?" "Mas e se ele ficar assustado e fugir do meu agarro?" Uma das ninfas se fazia intima de Deus. E um dia chegou para Eva e deu uma noticia que era um bafo: "Sabe aquela maçã que fica ali no catering? Se você comer uma delas vai poder ficar com o Adão e usar roupas feitas de peles de animais!"

Eva, claro, que não era boba, atacou a maçã com tudo. E foi, de fato, expulsa daquele lounge chamado Éden. Conseguiu agarrar o bonitinho com cara de blasé-indie Adão, que na hora foi supermacho e disse: "Vamos dar o fora daqui". Problema. Na saída do Éden, manifestantes da associação protetora dos animais atacaram o casal fofo (totalmente folk, com suas roupas de couro) falando que eles estavam usando peles de animais!!!!

Uma moça ofereceu para Eva um sandália de plástico e ela aceitou. E deixou os manifestantes para trás. Puxa, ela tinha sido legal, nem tinha arrancado (apesar da vontade) as penas dos seus invejáveis pavões. Mesmo assim ficou se sentindo meio culpada.

É, nada era perfeito fora do Éden. Pior que o tédio do paraíso_onde não havia sexo nem compras_, seria lidar com a culpa. "Comprei demais"' "Fiz sexo demais"' "Comi maçã demais e engordei". É, a vida pode ser tudo, menos perfeita. Eva começava a perceber isso...