14.9.12

As Coisas Mais Banais Do Mundo



“Blé. Eu ainda lembro de nós dois esparramados no sofá às 17:00 de uma terça-feira, vendo Friends — já que é a nossa série favorita — e levantando 17:03, para fazer um misto quente, porque é a hora que tem a vinheta e tem o comercial logo após. Comíamos e ríamos como duas crianças de 8 anos e quando dava 17:58 e já tinha acabado, íamos na rua jogar aquele jogo de fliperama perto da praça que você tanto gosta porém nunca consegue bater o recorde da casa. Fraco. Eu sempre dizia num tom irônico e baixo porém ainda esperando que você ouvisse. Imbecil. Você sempre respondia como se gostasse de cada provocação minha. Mas éramos dois ingênuos. Duas crianças. Acho que foi isso que sempre gostei na gente. Simplicidade. Pequenos gestos. Quase mínimos. Mas que me deixava acordada fazendo e refazendo aqui na minha mente. Me lembro também quando a gente saía da loja de fliperama depois de uma derrota mais do que linda — diante do meu ponto de vista, é claro — e íamos direto pro subway comer aquele sanduíche de frango que você tanto apreciava, como se o misto quente das 17:03 não tivesse bastado. Gordo. Só pensava em comer, comer, comer, comer, como se a comida fosse suprir algo que estava faltando ali dentro — que sinceramente eu até hoje não descobri — E então a gente conversava das coisas mais banais do mundo pra não ficar um ambiente constrangedor. Mas o que a gente não sabia é que não existia constrangimento algum quando estávamos perto um do outro. Porque, logo após você terminar o seu sanduíche de frango-seco-tipo-subway eu dizia “Me leva pra casa” e me perguntava a causa do seu “Por quê?”. Se era preguiça de levantar o rabo gordo da cadeira ou era por realmente acreditar que minha casa é aonde você está. Mas uma coisa é certa; quando a gente ama a gente fica bobo. E eu meio que sou a prova viva disso. Quando a gente ama, tudo é um sinal, desde aquela mísera troca de olhares de no máximo 2 segundos até toda palavra que sai da boca da pessoa. Mas nós éramos como Chandler e Mônica. É. Você era o meu bobão e palhaço com medo de qualquer tipo de compromisso que me fazia rir cada segundo de cada minuto de cada hora de cada dia. E eu era a sua Mônica histérica com minhas manias mais incontroláveis e absurdas que gostava de ter alguém como você por perto. Mas também éramos como Ross e Rachel. Ambos sabiam que os seus destinos estavam traçados desde sempre porém não se entregavam. Tínhamos lá nossas diferenças e personalidades absurdas mas sabe como dizem né? Peça de quebra-cabeça pra se encaixar não pode ser igual.Mas agora falando sério, repassando tudo, eu realmente achei que você fosse se apaixonar por mim. Que no meio de uma das nossas gargalhadas vendo Friends depois de uma fala engraçada do Joey, você iria me olhar e perceber que nossas risadas formam sintonia, que quando visse aquelas brigas de we were on a break de Ross e Rachel ia perceber que daria tudo para ter do mesmo tipo comigo, nem que seja fazendo papel de bobo tentando reatar pela milésima vez. Porque eu realmente acreditava que depois de eu te chamar de fraco em mais uma derrota bem sucedida no fliperama você iria dizer “seu fraco”. — BLÉ, CLICHÊ.— Eu realmente esperava que em uma dessas idas e vindas ao subway para saciar sua absurda vontade de sanduíche de frango você iria finalmente admitir que queria fazer isso pelo resto da vida comigo e que no caminho de casa ao invés de se distanciar esperando que eu pegue finalmente a chave perdida na minha bolsa, você iria ter a atitude de me puxar pra perto e bancar uma de “ladrão”. Mas eu tava certa. Você realmente é fraco. E se prestasse atenção nas coisas que eu falo, saberia que eu não gosto de garoto maromba. Eu me amarro é num fraco mesmo. Nesse fraquinho aí. Esse que mal sabe se entregar a um sentimento.A verdade é que não sei se você esperava isso, mas me apaixonei por você. Mas como diz o outro, “quando a gente se apaixona até os defeitos se tornam qualidades”. E lá estava eu, apaixonada desde seu sorriso que é meio torto de lá e cá dependendo da situação e o seu cheiro de roupa limpa já que não usava perfume porque tinha alergia, até a sua mais insuportável mania de roer as unhas. Até que era bonitinho. Mas olha só que tola, logo eu que sempre me vi tão independente diante do mundo me vi dependendo de você. Mas devo admitir que eu nunca fui do tipo de pessoa mimimi sabe. Não fiz planos para nós e nem planejei casamento. Não sei aonde moraríamos e muito menos o nome dos nossos filhos. Porque expectativas atraem decepções. Decepções atraem corações partidos.Mas eu sei. Você não vai aparecer no meio de uma aula de biologia com um buquê de flores me pedindo em namoro, nem vai tacar pedrinhas na minha janela de noite para eu ver a serenata que você preparou com um cara de 50 anos, espanhol, quase engasgando com o próprio bigode e tocando violão enquanto você canta minha música favorita do John Mayer. Você não vai, até porque têm vergonha de cantar e do jeito que é burro tacaria um pedregulho e quebraria minha janela.Mas escreve aí: A gente se amava. Ô se amava. Mas eu não acreditava, e você não sabia.”


— Because he’s my lobster, Brenda França - R. Shit

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