12.6.13

TUDO O QUE ANTES ERA PLURAL, JÁ NÃO CABE MAIS NAS LINHAS DOS SONETOS

 
Sobre o amor? Bom, aprendi as coisas mais importantes sobre ele nos últimos minutos. Aprendi que assim como ele pode começar em cinco minutos, também pode acabar em tal tempo. Aprendi que assim como ele prende, ele também te deixa partir, sem explicar, sem entender. Ele faz ver num sorriso mais que lábios e dentes. Aprendi que ele leva, arrasta, bate, levanta e acalma. Aprendi que ele é cínico, cru e sarcástico. Mas também é doce. Doce na percepção e no contexto. Aprendi que ele é morfina, ecstasy e álcool. Mas ele é cura, é solução. É verbo solto, é verbo conjugado. É sentido, é dois, é só dois, é dois à sóis. É complemento, é transitividade, é adjunto. É tudo junto. É passado, presente e futuro. É indeterminação, é certeza. Aprendi que ele também é perdão. Mas que a partir da terceira vez, o perdão já não é mais tão sincero. Aprendi que ele dá medo. Medo que se agarra com os dentes, que se perde com os lábios. Aprendi que a tese, a capa e a contracapa estão descritos em dois atos, conjugados por dois sujeitos. Descobri que é sujeito composto, é aposto, é oposto. Eu aprendi o que é amor, o que é saudade, quando te vi ir, te vi partir, sonegando, abandonando, tudo o que um dia a gente viveu. Eu não sei ao certo como deveria começar contando. Talvez deva falar que estou bem. Mas sei, e você também sabe que não estou. Hoje é trigésimo dia sem você. Relatei cada dia em cartas, mensagens, mas nenhuma jamais chegou até você. Nem vão chegar. A parada foi suicida, foi nostálgica, foi violenta e virou um massacre. Só hoje pensei em fazer umas cinco lobotomias no meu cérebro. Penso em drenar, esvaziar, arrancar, encravar minhas unhas e puxar, todo tipo de lembrança do que se foi. Já pensei em te matar umas cem vezes em qualquer tipo de lembrança que me venha à cabeça quando passo por aquela pracinha que costumava ser NOSSA. Parece que a Miss Cérebro foi lascada, pisoteada, esnobada. Parece não, ela foi. E eu me alimento com essa ideia diabólica de esfolar você, de acabar com qualquer rastro seu na minha vida. Chega a ser patético. Quantos anos eu tenho? Cinco? Acabei de descobrir que papai Noel não existe, é isso? Acabei de descobrir que a porra do amor você socou no cu? Eu já sabia que isso ia acontecer e talvez seja por isso que eu esteja com tanto ódio. Eu me permiti ser levada de forma ímpeta. Eu me permiti correr pela lama, cair de cara e me alimentar com merda. Antes de tudo, eu me causei isso. Fui eu quem deixou você entrar na minha vida, fui eu quem te deu as chaves do apartamento e ainda fui eu quem te observou enquanto você dormia. Eu, a única idiota da história. De cérebro à inexistência. Onde fui parar? Numa rua sem saída? No fundo do poço? Acho que agora eu não desço mais que isso. Impossível. Agora só me imagino subindo, encravando cada unha pelas paredes, subindo e subindo. Eu me imagino te deixando, como você fez. Sem explicar, sem entender, sem se quer pestanejar. Eu me imagino te vendo sofrer no meu lugar. Eu fico aqui me alimentando com essas ideias patéticas enquanto você faz o quê? Coloca todos aqueles ”eu te amo” na privada e dá descarga? Ou ainda conhece outra garota? Uma mais bonita, mais magra e não tão boba, é isso? Você sente falta de mim como eu sinto de você? Você é um homem ou um canalha? Me responde. Só me responda. Venha, com qualquer resposta inútil e mentirosa, mas venha. Venha me alimentar com ilusões, com vaidades, porque eu quero. E eu sou burra e pior que você por isso. Eu fico querendo o que não preciso, o que já deveria ter jogado no lixo e queimado. Às vezes acho que a única forma de acabar com tudo isso é com a morte. Não a minha, a sua mesmo. A sua, a da sua irmã, a daquela sua amiga do trabalho, do seu irmão ou até mesmo da sua mãe. Falo de uma chacina, de acabar com tudo o que me lembra você. De acabar até mesmo com o fabricante do perfume que você usa. Falo de rasgar os modelos de roupas que você usa, do estilo de carro que você gosta. Olha isso… olha só onde vim parar. Estou paranoica com todo o seu pseudo-amor. Ou deveria dizer, ex-pseudo-amor. Agora me diz, o que você fez com todas as mensagens em que você dizia que era pra sempre? Deletou? Mandou pra quem agora? Pra mãe Joana, pra sua vizinha ou pra nova garota da academia? Você anda sentindo o que eu sinto? Você percebe que eu continuo ficando e você continua indo? Onde foi parar aquele cara que eu conheci à algum tempo atrás? Escafedeu, tomou chá de vidrex? O que você fez com ele? Recortou do seu passado, aniquilou do seu presente pra não deixar rastros pro seu futuro? Ou pior, o que você fez comigo? Me empurrou pela janela do quinto andar? É isso? Chega a parecer masoquismo eu ficar aqui, duas horas seguidas, escrevendo sobre você. Só e somente sobre você, me torturando com qualquer tipo de palavra ou sentimento vinculado. O que eu tô fazendo comigo? Estou esperando você ligar? Estou esperando um buquê de flores com um cartão de desculpas como nas outras vezes, é isso? Me diz o que tá acontecendo, me diz porque você me deixou aqui, e continuou seguindo sem mim. Me diz porque você fingiu se importar e, da pior forma, mostrou que eu não signifiquei nada. Me fala porque eu continuo aqui, tentando me explicar, tentando te fazer explicar e não sigo minha vida? Porque eu não consigo sair de casa e simplesmente ir até a lavanderia sem pensar que não levarei mais suas roupas? Até mesmo minha segunda vaga no estacionamento do prédio parece que tá reservada pra você. Parece que sempre esteve ali pra você. Agora me diz o porquê de tudo isso? É sangue sadomasoquista? É loucura ou é burrice mesmo? O avião caiu, o carro capotou, a gente se afogou. Foram mentiras em cima de mentiras, promessas em cima de promessas, e no final, não foi nada pra você. E foi tudo pra mim. Eu lembro que eu ia ao salão toda semana, ia à academia todo santo dia. Pra quê? Pra ficar bonita pra você? Pra perder meu tempo tentando agradar alguém que nem sequer notou quando eu cortei o cabelo? O que eu fiz de mim? Agora, o que eu faço? Chamo um gari pra varrer você e todo seu lixo que ainda estão em mim? Não importa o que eu arquitete, o que eu diga ou os meus milhares de devaneios, a resposta é única, simples, crua, e dói: você nunca esteve aqui como eu imaginei. Você estava aqui, mas não estava também. Foram tempos de namoro em solidão, trocando passos com traições. Mas só eu não percebi. Eu quis acreditar que ainda existia algo verdadeiro em você por mim, por nós. De nada adiantou. De nada me serviu. Agora eu não sei do que preciso mais: de um dorflex pra acabar com toda a dor causada pelo peso de tudo isso, de uma massagem, de um colo (do seu colo) ou da minha cama. Da sua cama, da nossa cama. Admito que ontem senti sua falta. Mas senti de forma diferente, sem ódio, sem rancor. Senti falta do cara que conheci e por quem me apaixonei. Do cara que acordava todo dia ao meu lado, que era doce. Doce no contexto e na percepção. Admito que também passei a te entender, quer dizer, eu causei isso também, não é mesmo? Eu e você. A gente tem mania de matar a alegria com todas essas análises superficiais de momento. Buscamos problema onde não tem. E então a gente acha. Acha o que não queria ver. Acha porque tem essa mania besta de querer ter explicação pra tudo. A gente torna o simples complicado, a gente aglutina na gente toda essa ideia de que não vai dar certo. Porque não conseguimos ver a felicidade sem se embaraçar num futuro final. É sempre esse mesmo egoísmo que visa certeza. Criamos conceito pra tudo que ficou, acabamos com tudo aquilo que deveria nos fazer estremecer, que nos deveria fazer ababelar. A gente vive na paranoia de que algo de ruim está por vim, e não conseguimos aceitar que uma vez na vida as coisas estão dando certo. Então, causamos canseira na vida com essa tolice, com toda essa babaquice. A gente sufoca, sonega, oculta, tudo dentro da gente, por medo de ser feliz. Por medo de nos permitir ser feliz. E foi só isso que conseguimos: acabar com tudo, porque procurávamos o que não existia. Se eu te falar que ainda lembro do primeiro dia que te conheci, você acredita? Do primeiro dia em que tive certeza de que era você. Era você, com aquela sua camisa preta, barba e ray-ban. Era você, eu tinha acabado de perceber, de encontrar. Mas por onde você anda agora? Não somos mais nem amigos, colegas, conhecidos. Por que você não me telefona e diz que não tá bem? Que também sente minha falta? Por quê?
Eu lembro, nitidamente, da primeira carta que escrevi pra você. Era uma melancolia e medo de tudo isso que agora é real, nos primeiros segundos que ficamos juntos. Ela falava bem assim: ”São seus abraços, seu sorriso, até mesmo seu sarcasmo. É a soma, é a multiplicação. É o acréscimo que me tornei com você, é a divisão dos problemas. É todo esse cálculo matemático que nos tornamos. Mas é também o poema, a música, o êxtase. É morfina. São as palavras rimadas e as variações. É um todo. É um nada. É o avesso, mas também é o lado certo. É a história do ontem. A nossa história. A geografia do teu corpo, a ciência dos nossos atos. É impacto. É linguagem. É o teu inglês inventado, é a circunstância variada. É a contradição que tanto faz sentido, é a confusão que nos traz paz. É o abismo que nos leva até o alto. É a minha filosofia, é a tua ideologia, é a nossa junção. É você, sou eu, somos nós. Tudo conjugado na primeira pessoa do plural.” Parece que eu ainda tô vendo o seu sorriso ao ler isso. Mas agora, talvez só agora, eu tenha percebido que você não era tudo isso. Que você não era exatamente com quem eu deveria estar. Talvez o cara certo esteja por aí, me procurando, e eu nem tenha notado porque só conseguia te observar. Talvez ele seja o carinha da padaria ou aquele vendedor da Chilli Beans. Talvez até seja um vizinho. Ontem eu vi um moço aqui no prédio. Eu nem sei dizer a quanto tempo ele estava morando aqui, mas sei que hoje eu reparei nele. Reparei na forma como ele sorriu, de um jeito diferente do seu, mas que me causou uma tremedeira de outro mundo. Ele tinha algo especial. De repente era a forma dele andar com aquele violão nas costas, ou ainda os olhos dele. Ele sorria pelos olhos. Hoje, pela segunda vez, eu o vi. Ele falou comigo. Ele e eu, eu e ele, era uma timidez absurda, mas que dava certo. Causava aquela ideia de ”borboletas no estômago”. Será que eu já tô te esquecendo? Será que ele era o cara certo? Pra ser sincera, não faço ideia do que é ou deixa de ser, mas tenho certeza que de alguma forma, ele me faz querer te esquecer. Talvez seja a poesia dele, a voz rouca ou ainda um sinal no canto da boca. Mas eu tenho medo, no fundo, eu tenho medo. Vai que ele é que nem você, que eu também sou só uma desculpa pra ele. Ou pior, o que você pensaria me vendo assim? Talvez eu esteja sendo rápida demais te esquecendo, talvez eu tenha achado-o como desculpa pra te esquecer. Será que as coisas ainda giram em torno de você? Será que eu já te esqueci e aniquilei? Depois de trinta dias chorando, eu sinceramente, espero que sim. Pior, eu espero que você já tenha um outro alguém que te faça feliz de uma forma que eu não consegui. Parece loucura, e talvez seja mesmo, mas é isso que te desejo. Parece que todo o meu rancor e ódio que sentia por você acabaram, sumiram. Eu acho que finalmente fui capaz de entender tudo. Tenho certeza de que o tempo juntos foi bom, foi suficiente, mas tinha que acabar. Já estava entre o morno e o frio. Foi melhor pra você e foi melhor também pra mim. Não foi fácil entender. Tive que passar por poucas e boas até chegar a essa conclusão. Quer dizer, eu não posso passar a vida toda chorando por você, não é mesmo? Eu não posso e nem quero mais. Já chorei o que tinha que chorar, sequei. Eu sei, por mais que eu tenha tentado negar, você sempre teve um outro alguém em mente. Você só me queria como amiga, ou como alguém pra acabar com uma dor passada sua. E eu acho que eu também te queria, porque via em você algo que nunca vi em outro cara. Mas eu não quero e não posso mais ser só uma anestesia na sua vida. Sabe, essa história de ser só desculpinha dos outros, de não ser um tudo de alguém… não quero que isso entre na minha biografia. Eu só quero alguém que me faça entender que sou especial, que me ame na mesma medida que eu costumo amar. Eu sou boba por me apegar tão fácil às pessoas, por acreditar que elas também me amam. Eu ainda não aprendi a diferenciar entre ”gostar” e ”amar”, e é por isso que eu me ferro tanto. Mas afinal, o que é o amor? É criar melodias, é manter saudade, é compartilhar? Eu não sei, depois de tudo, eu ainda não sei te dizer o que é. Só sei que sinto - e como sinto. Mas explicação alguma cabe dentro de mim, e um dia, se eu chegar a entender, acho que já vai ser tarde de mais. E já me adiantando: prefiro ser essa sanfona de desentendimento, mas que soa qualquer tipo de amor.
 
Carolina F.

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